quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Aquela Lua. Aquela Lua perfeita iluminava-nos, iluminava a nossa conversa, iluminava-nos os espíritos. Estávamos deitados nas ervas daquela clareira que descobrimos durante o acampamento do 8º ano e que mantivéramos secreto, um lugar só nosso. Quando julguei que tinhas adormecido, comecei a cantarolar baixinho a música que escreveste para mim.
"Ainda te lembras dela?" perguntaste-me, com os olhos fechados.
"Claro. Como poderia eu esquecê-la? É para mim, não é?" respondi-te a sorrir.
"Sabes por que ta escrevi?" Continuaste sem esperar pela minha resposta.
"Eu amava-te quando a escrevi, enquanto namoravas com o meu melhor amigo e vinhas desabafar quando ele te magoava."
"Eu sei... Eu fui tão injusta contigo. Eu sou injusta contigo." disse baixinho ,meio a medo da tua reacção. "Eu não queria ter-te magoado daquela maneira. O que ele fez comigo não é nada - nada - comparado com o que te fiz. Eu sabia que sentias algo forte por mim e aproveitei-me disso para nunca me sentir só."
"E eu aproveitei-me de ti por te deixar fazeres-me isso." riste-te da recordação daquele passado que parecia já tão longínquo.
Ficámos em silêncio durante uns minutos.
"Sabes o que mais me custou?" perguntaste finalmente.
"Ter sujado os teus lençóis com baba e ranho?" e ri-me. Deste aquela gargalhada capaz de fazer virar todas as cabeças das pessoas da rua. Céus, como eu adorava essa tua gargalhada.
"Vá, para além do monte do detergente da roupa que tive de usar contigo." ficaste sério repentinamente. "O que mais me custou foi o facto de tu voltares sempre para ele. Apesar de tudo o que ele te fazia, tu acabavas sempre por perdoá-lo e voltavas para ele, para daí a uma ou duas semanas voltares outra e outra vez para os meus lençóis sujos de baba e ranho." tentaste brincar. Estava a custar-me tanto ouvir-te falar daquilo. Custava-me saber o que realmente se passava na tua cabeça naqueles momentos em mais me senti vulnerável. Custava-me saber que tinha sofrido durante tanto tempo pela pessoa errada.
"Nunca mais quero passar o que passei. Nunca mais quero sofrer daquela maneira." continuaste.
"Eu não te mereço. Eu nunca te mereci. Sempre foste muito melhor que eu. Sempre foste muito mais forte que eu. Nunca te vi fazeres as fitas que eu fazia enquanto estiveste com ela."
"Porque não era para tua casa que eu ia sujar lençóis com baba e ranho. Mas devia ter feito isso para te retribuir a quantidade de detergente usado." deste-me um encontrão. "Ela nunca foi assim tão especial para mim. Eu acho que só estava com ela para te tentar tirar da minha cabeça. E acho que ela só estava comigo por pena. Nunca fomos muito próximos, havia sempre uma certa distância nos carinhos, nos beijos." parecias dizer isto para ti mesmo, como se te tivesses esquecido que eu estava ali. Então olhaste para mim. "Tu."
"Eu o quê?" não me tinha apercebido que estava a chorar até me teres feito falar.
"Sempre foste tu quem realmente fez importância na minha vida. Sempre foste tu aquela a quem eu atendia os telefonemas a correr. Sempre foste tu quem me fazia o coração saltar do peito só por saber que eras minha amiga e que nunca me ias deixar. Sempre foste tu aquela que fizeste o coração parar só por olhares para mim,mesmo quando estavas com os olhos inchados pelas lágrimas. Sempre foi a ti que eu amei. Só a ti."
"Eu..." comecei a dizer.
"Schh. Não fales,ouve só. Ouve o meu coração. Ouve como ele bate descompassado só por te ter tão perto de mim.Olha. Olha-me nos olhos e vê como eles brilham por estarem a ver-te a ti. Eu amo-te, nunca te esqueças."
E beijaste-me. Foi o nosso primeiro beijo. Tão terno, tão doce, banhado pelas nossas lágrimas, por finalmente ter acontecido. Finalmente estávamos juntos e nada mais nos ia separar.
E a Lua, grandiosa, iluminou-nos. Iluminou o nosso beijo. Iluminou o nosso amor.

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