Acordo.
Estou no meio da floresta.
Sinto a tua presença,mas não te vejo.
"Onde estás?" grito em pânico.
"Aqui" respondes-me baixinho ao ouvido.
Sinto-te,mas não te vejo. Sinto-te tocar-me as mãos,acariciar-me os braços, cheirar o meu cabelo. Mas não te vejo.
Fecho os olhos e aí encontro-te.
"Olá"dizemos com um sorriso na voz,uma ânsia de saciar a nossa sede um do outro que nunca é preenchida.
Toco-te na face. Sorris e olhas-me nos olhos.
"Amo-te,sabes?" perguntas num arfar que não encaixo neste encontro.
"Sim. Não me deixes." Peço-te eu.
"Eu nunca, nunca mais te vou deixar." E beijas-me, de maneira feroz, urgente, como se nunca nos tivéssemos beijado, como se este fosse o último e o primeiro que déramos.
Agarro-te o cabelo e abraço-te. Um abraço de Hércules, com medo de te perder outra vez.
"Porque me deixaste aqui sozinha?" Pergunto-te,à beira das lágrimas.
"Eu não queria,mas tinha de ser assim.Eu não podia continuar aqui.Não me é permitido." Tentas explicar,já com as lágrimas nos olhos. Aquele arfar continua,o que tens?
"Eu chorei por ti,gritei e não me ouviste. Chamei-te e não vieste!" grito eu,revoltada por saber que este momento é breve demais.
"Eu não podia. Eu não posso..." Suplicas. O arfar piora.
"Como foste capaz?! Eu precisava de ti! Eu quase morri por ti!" grito e tento bater-te mas não te consigo largar.
"Joana..." Começas a dizer. Mal te consigo perceber entre a respiração entrecortada.
"Joana,não me deixes! Joana!" gritas em agonia.
Acordo.
Estamos no meio da praia.
Como vim aqui parar?
Tu choras ao meu lado.Porquê?
"Não me deixes,por favor,não me deixes." continuas a pedir. Quero responder,mas a minha voz não sai. Tento olhar-te nos olhos e dizer-te que nunca te vou deixar,mas as minhas pálpebras estão pesadas. O que se passa?
"Respira,por favos,respira! Volta para mim. Desculpa." Continuas a chorar.Não chores meu anjo.
Depois percebo.
O arfar era meu. Era.
Vi-te cair. Tentei salvar-te. A floresta era o que deveria ter acontecido.
Tu é que ias morrer naquela floresta ao tentar salvar-me,mas eu quis ver-te no mar,onde te conheci, naquele dia. No mar onde morri. Por ti.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"No mar onde morri. Por ti." esta frase está qualquer coisa. Adoro este tipo de frases. Directos e objectivos. Sem margem de manobras para grande divagações. Adoro mesmo. Muito bom texto.
ResponderEliminarFoi um dos textos que mais adorei escrever...eu estava a sentir verdadeiramente aquilo que estava a escrever. Imaginei-me mesmo numa floresta,rodeada de nada; imaginei-me mesmo numa praia,deseperada e a sofrer, com "ele" a chorar...porque acho que seria mesmo capaz de fazer isso por ele.morrer.esta é a maior prova de amor que se pode dar a alguém,morrer por ela...e só seria capaz de fazê-lo por duas pessoas...
ResponderEliminar